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“Os Pássaros” volta às telonas restaurado em DCP

Foto: DivulgaçãoO que para alguns fãs é apenas um “sonho”, para outros Hitchcockmaníacos torna-se algo tangível a partir desta quinta-feira (20/03). Moradores de São Paulo e Rio de Janeiro vão poder ver a reestreia de “Os Pássaros” (The Birds, 1963) nas telas de cinema após restauração completa do longa de Alfred Hitchcock em formato DCP (Digital Cinema Package). As sessões serão exibidas apenas no Espaço Itaú de Cinema (ver horários abaixo).

O que é DCP?
O DCP é um formato de reprodução que funciona como se fosse um arquivo de computador. Porém, tem resolução de mais de duas mil linhas (2K) e, nas produções atuais, é resultado final de todo um processo digital desde as filmagens e inserções sonoras. Entretanto, de acordo com normas estabelecidas pela Society of Motion Pictures and Television Engeniers (SMPTE), o arquivo em questão precisa ter resultado final padronizado de filmes em película, uma exigência da Digital Cinema Initiatives. A DCI, como é conhecida mundialmente, é uma associação independente formada pelos sete principais estúdios cinematográficos do planeta (Universal, Paramount, 20th Century Fox, Warner Brothers, MGM, Walt Disney e Sony Pictures).

Os próximos títulos a serem relançados em formato DCP são “O Pequeno Fugitivo” (Little Fugitive, 1953), de Raymond ‘Ray Ashley’ Abrashkin e Morris Engel e, em seguida, “Monty Python e o Sentido da Vida” (Monty Phython’s The Meaning of Life, 1983), de Terry Jones.

Sinopse de “Os Pássaros”
Estrelado por Tippi Hedren, Rod Taylor e Jessica Tandy, o filme conta a história da pequena cidade litorânea de Bodega Bay sendo atacada por pássaros (sem qualquer motivo aparente). Melanie Daniels (Tippi) chega ao município e é inexplicavelmente atacada por uma gaivota. Assim que engata um romance com o local Mitch Brenner (Taylor), uma aterrorizante série de ataques de milhares de aves de inúmeras espécies se inicia e ambos precisam lutar para salvar suas vidas e a dos moradores de Bodega Bay. “Os Pássaros” foi o precursor dos longas que mostram animais e a natureza fora de controle.

Horários de exibição de “Os Pássaros”:
São Paulo

– Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca: 15h50
Endereço: Rua Frei Caneca, nº 569, Consolação (Shopping Frei Caneca, 3º Piso)

– Espaço Itaú de Cinema Pompéia: 19h
Endereço: Rua Turiassu, nº 2100, Barra Funda (Bourbon Shopping São Paulo)

Rio de Janeiro
– Espaço Itaú de Cinema Botafogo: 13h e 21h40
Endereço: Praia de Botafogo, nº 316 – Botafogo

A segunda queda do nazismo – Os 65 anos de “Festim Diabólico”

Foto: Cartaz -DivulgaçãoO ano de 2013 vai embora e leva consigo uma data que arredonda a estreia de uma inovação cinematográfica de meados do século passado. Há exatos 65 anos, um diretor arriscava transpor cenas do teatro para as telas usando apenas um cenário e oito takes para a edição. Em agosto daquele ano, as salas de todo o mundo receberam “Festim Diabólico” (Rope, 1948), de Alfred Hitchcock, para mostrar aos espectadores, além de uma história fria e tensa, a ousadia de um cineasta destemido.

Baseado em uma peça de Patrick Hamilton, cuja ideia partiu de um caso real ocorrido na Universidade de Chicago, o filme conta a história de dois amigos – Brandon Shaw (John Dall) e Phillip Morgan (Farley Granger) – que matam um terceiro (David Kentley, interpretado por Dick Hogan), o escondem em um baú e utilizam o mesmo para servir um jantar à família, namorada e conhecidos da vítima. Uma célebre frase proferida por Hitch explica o norte do longa: “Se explodirmos uma bomba com duas pessoas na sala, a emoção dura apenas dez segundos. Mas anuncie que a bomba irá explodir, e o suspense dura até o final”.

Utilizada em seu sentido literal nas filmagens de “Velocidade Máxima” (Speed, 1997) e sua sequência, neste caso a frase se aplica apenas para explicar as sensações geradas durante os 80 minutos de filme. E, para dar ainda mais caldo à aflição, a produção teve apenas oito cortes, sendo filmada praticamente inteira em plano-sequência, visto que a sala de estar dos homicidas é o único ambiente da narrativa.

A cada aproximação de qualquer elemento em cena ao baú onde se esconde o corpo, a espinha gela junto à incessante apreensão do excelente Granger, cujo personagem é o executor do assassinato por estrangulamento. O nome original do filme se refere à corda utilizada pelo mesmo na primeira sequência após os créditos iniciais. O crime é justificado por seus autores como uma crença na premissa de que apenas seres humanos superiores são capazes de cometer atrocidades sem deixar-se levar por sentimentos inerentes à uma pessoa “apenas ordinária”.

Antigo defensor desta peculiar teoria, o professor Rupert Cadell, cuja aparição marca o início da parceria de Hitchcock com  o ator James Stewart, é convidado à celebração do post mortem e desvenda o mistério, atuando como detetive em cima da fragilidade de seu aluno interpretado por Farley Granger.

“Festim” foi o longa que praticamente selou a alcunha de “Mestre do Suspense” à Hitch. Não é um filme de terror. É um longa angustiante cuja premissa também revela entrelinhas e significações corajosas para a época. Não apenas por sua filmagem praticamente em tempo real. Mas também pela subjetiva relação homossexual dos personagens centrais e pela crítica implícita aos fundamentos do nazismo, em prática na Alemanha de Hitler poucos anos antes da produção.

Hitch prova, em apenas oito “quadros” de dez minutos, o quão boçal é o ser humano que acredita ser superior à seus semelhantes. A falsa sensação de distinção é substituída, aos poucos, por uma pequenez concebida na mesma proporção. A empáfia dos dois ignorantes cai como uma ditadura voraz diante de um teórico vanguardista arrependido. E o recado perdura aos dias atuais.

Especificações técnicas
Filme: “Festim Diabólico”
Nome original: “Rope”
País e ano: Estados Unidos/ 1948
Produtoras: Universal Pictures, Warner Brothers e Transatlantic Pictures
Duração: 80 min
Fotografia: Colorido
Gênero: Suspense
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Hume Cronyn (baseado em peça de Patrick Hamilton)
Produção: Sidney Bernstein e Alfred Hitchcock
Música: David Buttolph
Elenco: James Stewart (Rupert Cadell), John Dall (Brandon Shaw), Farley Granger (Phillip Morgan), Sir Cedric Hardwicke (Mr. Kentley), Edith Evanson (Mrs. Wilson), Douglas Dick (Kenneth Lawrence), Constance Collier (Mrs. Atwater), Joan Chandler (Janet Walker), Dick Hogan (David Kentley).