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Documentário “perdido” de Hitch sobre Nazismo será restaurado

Foto: DivulgaçãoUm documentário rodado por inúmeros diretores e revisado e montado por Alfred Hitchcock será restaurado e exibido até o início de 2015. Essa é a promessa de curadores do Museu Imperial da Guerra (Imperial War Museum – IWM), em Londres, capital da Inglaterra. Na última semana, o jornal local The Independent trouxe com exclusividade a notícia de que uma película “perdida”, cujo conteúdo revela imagens impressionantes e chocantes dos campos de extermínio nazistas, deve ser completamente reparada pelos funcionários no intuito de finalmente ser mostrada aos espectadores de todo o planeta.

A obra, que ficou conhecida sob o título “Memory of the Camps” (Memória dos Campos, traduzida literalmente), foi produzida entre os anos de 1944 e 1945 por cineastas como Billy Wilder, William Wyler e Frank Capra. Porém, a intenção inicial na época era documentar o fim do conflito para os noticiários antes das sessões de cinema, para a programação normal e para exibição no front de batalha. Entretanto, em função da mudança na política dos Aliados em 1945, norte-americanos e britânicos passaram a preocupar-se em expor ao mundo as atrocidades cometidas pelo holocausto nazista, mostrando imagens autênticas dos horrores nos campos.

Foto: DivulgaçãoToby Haggith, um dos responsáveis pela execução do projeto de restauração e nome forte do IWM, definiu o trabalho como “extremamente forte e tocante”. Segundo descrição do mesmo, o contento não é restrito apenas a imagens de horror, “mas também de esperança, como, por exemplo, a de um prisioneiro que pôde tomar banho depois de muito tempo”. O filme documenta ainda os esforços dos Aliados para evitar a disseminação de doenças.

Ainda visto por especialistas em cinema como um “Hitchcock perdido”, o longa permaneceu um fragmento do todo o material coletado pelos diretores naquele momento da Segunda Guerra Mundial. A coordenação do projeto naquela ocasião ficou por conta de Sidney Bernstein, responsável pelo departamento de cinema da anglo-americana Divisão de Guerra Psicológica (PWD, na sigla em inglês), e apontado como o recrutador oficial dos diretores em questão.

A inserção de Hitch
O primeiro cineasta chamado para realizar a segunda parte das filmagens foi Billy Wilder, que recusou o convite. Apesar de não haver qualquer registro de sua contratação, Hitchcock é apontado por diversas testemunhas oculares como o pilar de sustentação do filme. Uma delas é Peter Tanner, montador de “Memory of the Camps”. Em 1983, ele descreveu o trabalho minucioso do diretor. Segundo Tanner, para o cineasta britânico, o mais importante era a credibilidade das imagens, conquistada por meio de uma análise minuciosa entre registros documentais e situações encenadas.

Foto: Amazon.comProvável exibição em 2014-2015
Segundo o diário britânico The Independent, em 1945 Hitchcock mostrou-se chocado com as imagens, passando dias sem ir ao estúdio. O filme desapareceu por longo tempo nos arquivos, até ser localizado por um pesquisador norte-americano, no início dos anos 1980. Uma versão fragmentária de “Memory of the Camps” foi mostrada na Berlinale em 1984. De acordo com o Museu Imperial da Guerra, entre fins de 2014 e início de 2015, a obra deverá ser exibida na televisão britânica ou em festivais.

No Youtube
Veja abaixo 53 minutos do documentário disponibilizados gratuitamente no Youtube. Atenção: não há legendas na edição citada.

(Texto baseado em informações da Deutsche Welle, gigante da comunicação alemã)

 

A segunda queda do nazismo – Os 65 anos de “Festim Diabólico”

Foto: Cartaz -DivulgaçãoO ano de 2013 vai embora e leva consigo uma data que arredonda a estreia de uma inovação cinematográfica de meados do século passado. Há exatos 65 anos, um diretor arriscava transpor cenas do teatro para as telas usando apenas um cenário e oito takes para a edição. Em agosto daquele ano, as salas de todo o mundo receberam “Festim Diabólico” (Rope, 1948), de Alfred Hitchcock, para mostrar aos espectadores, além de uma história fria e tensa, a ousadia de um cineasta destemido.

Baseado em uma peça de Patrick Hamilton, cuja ideia partiu de um caso real ocorrido na Universidade de Chicago, o filme conta a história de dois amigos – Brandon Shaw (John Dall) e Phillip Morgan (Farley Granger) – que matam um terceiro (David Kentley, interpretado por Dick Hogan), o escondem em um baú e utilizam o mesmo para servir um jantar à família, namorada e conhecidos da vítima. Uma célebre frase proferida por Hitch explica o norte do longa: “Se explodirmos uma bomba com duas pessoas na sala, a emoção dura apenas dez segundos. Mas anuncie que a bomba irá explodir, e o suspense dura até o final”.

Utilizada em seu sentido literal nas filmagens de “Velocidade Máxima” (Speed, 1997) e sua sequência, neste caso a frase se aplica apenas para explicar as sensações geradas durante os 80 minutos de filme. E, para dar ainda mais caldo à aflição, a produção teve apenas oito cortes, sendo filmada praticamente inteira em plano-sequência, visto que a sala de estar dos homicidas é o único ambiente da narrativa.

A cada aproximação de qualquer elemento em cena ao baú onde se esconde o corpo, a espinha gela junto à incessante apreensão do excelente Granger, cujo personagem é o executor do assassinato por estrangulamento. O nome original do filme se refere à corda utilizada pelo mesmo na primeira sequência após os créditos iniciais. O crime é justificado por seus autores como uma crença na premissa de que apenas seres humanos superiores são capazes de cometer atrocidades sem deixar-se levar por sentimentos inerentes à uma pessoa “apenas ordinária”.

Antigo defensor desta peculiar teoria, o professor Rupert Cadell, cuja aparição marca o início da parceria de Hitchcock com  o ator James Stewart, é convidado à celebração do post mortem e desvenda o mistério, atuando como detetive em cima da fragilidade de seu aluno interpretado por Farley Granger.

“Festim” foi o longa que praticamente selou a alcunha de “Mestre do Suspense” à Hitch. Não é um filme de terror. É um longa angustiante cuja premissa também revela entrelinhas e significações corajosas para a época. Não apenas por sua filmagem praticamente em tempo real. Mas também pela subjetiva relação homossexual dos personagens centrais e pela crítica implícita aos fundamentos do nazismo, em prática na Alemanha de Hitler poucos anos antes da produção.

Hitch prova, em apenas oito “quadros” de dez minutos, o quão boçal é o ser humano que acredita ser superior à seus semelhantes. A falsa sensação de distinção é substituída, aos poucos, por uma pequenez concebida na mesma proporção. A empáfia dos dois ignorantes cai como uma ditadura voraz diante de um teórico vanguardista arrependido. E o recado perdura aos dias atuais.

Especificações técnicas
Filme: “Festim Diabólico”
Nome original: “Rope”
País e ano: Estados Unidos/ 1948
Produtoras: Universal Pictures, Warner Brothers e Transatlantic Pictures
Duração: 80 min
Fotografia: Colorido
Gênero: Suspense
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Hume Cronyn (baseado em peça de Patrick Hamilton)
Produção: Sidney Bernstein e Alfred Hitchcock
Música: David Buttolph
Elenco: James Stewart (Rupert Cadell), John Dall (Brandon Shaw), Farley Granger (Phillip Morgan), Sir Cedric Hardwicke (Mr. Kentley), Edith Evanson (Mrs. Wilson), Douglas Dick (Kenneth Lawrence), Constance Collier (Mrs. Atwater), Joan Chandler (Janet Walker), Dick Hogan (David Kentley).