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Cinema Libre tem 18 filmes de Hitch gratuitos na Web

Foto: ReproduçãoA você que deseja conhecer melhor a carreira de Alfred Hitchcock ou, se já conhece, deseja rever algumas das obras-primas do Mestre do Suspense, aí vai uma dica bem bacana. O site Cinema Libre, de domínio brasileiro, disponibiliza, gratuitamente, 18 longas do cineasta britânico em suas versões completas para visualização na própria internet. O site deixa no ar apenas filmes que se encontram sob domínio público em território brasileiro em versões integrais e legendadas.

Foto: ReproduçãoDe Hitch, podem ser acessadas as seguintes produções: “The Pleasure Garden” (1925); “Easy Virtue” (1927), “O Ringue” (The Ring, 1927), “Pobre Pete” (O Ilhéu – The Manxman, 1929), Chantagem e Confissão (Blackmail, 1929), “Juno e o Pavão (Juno and the Paycock, 1930), “Assassinato” (Murder!, 1930), “O Mistério do Nº 17” (Number Seventeen, 1932), O Homem Que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, 1934), “Os 39 Degraus” (The 39 Steps, 1935), “Sabotagem” (Sabotage, 1936), “O Agente Secreto” (Secret Agent, 1936), “A Dama Oculta” (The Lady Vanishes, 1938), “A Estalagem Maldita” (Jamaica Inn, 1939), “Rebecca – A Mulher Inesquecível” (Rebecca, 1940), “Correspondente Estrangeiro” (Foreign Correspondent, 1940),  “Suspeita” (Suspicion, 1941) e “Sabotador” (Saboteur, 1942).

Para acessar apenas aos filmes do diretor britânico, clique aqui e divirta-se!

Fontaine e a Mansão: A concretização de Rebecca

Foto: Divulgação CartazMuito estranho seria se este blog passasse sem tocar no nome de Joan Fontaine até o final do ano. Única atriz a ganhar um Oscar® por um longa do Mestre do Suspense – vencido em 1942, por “Suspeita” (Suspicion) -, deixou o plano físico em 15 de dezembro com um legado inquestionável na sétima arte. Porém, apesar do prêmio ter sido dado por outro filme, foi em “Rebecca – A mulher Inesquecível”, sua estreia nas telonas, o grande marco da carreira e ao lado de Alfred Hitchcock. Hoje, é considerado um dos maiores clássicos de toda a história do cinema.

O tema central parece simples: um jovem viúvo (“Maxim” De Winter, interpretado por Laurence Olivier) se apaixona por uma bela moça (Joan Fontaine) e resolve casar-se novamente. Porém, a jovem é fadada pelo destino a ser não somente a segunda “Sra. De Winter”, mas também aquela cuja vida terá para sempre a sombra de Rebecca, a primeira esposa do abastado lorde. Até quando essa simples e ingênua garota irá viver com esse “fantasma”?

A despretensão da sinopse é, aos poucos, desmembrada em inúmeros fatores. E, neles, jazem toda a genialidade de Hitchcock. O “espectro”, afinal, jamais é mostrado, pois não trata-se de um filme de terror. Aliás, quem é capaz de garantir, com toda a certeza, a presença de algo paranormal na trama? Pelo contrário. Hitch consegue estabelecer características tão poderosas e verossímeis à personagem-título que dá a ela uma vida sem a necessidade de aparecer durante os 130 minutos de produção. É um convite ao espectador para entender quem foi Rebecca e criá-la mentalmente ao seu bel prazer, amando-a ou odiando-a.

Na verdade, para conseguir gerar a noção de sua criação, o cineasta põe Rebecca em cada canto das cenas. Na vivência de seu viúvo, nas bocas de seus serviçais e, principalmente, no velho casarão, chamado de Manderley, um dos principais personagens do longa. O “fantasma” da falecida está em tudo: nas decorações, na rotina dos funcionários, nas lembranças e, acima de tudo, na constante expectativa de que a protagonista venha a ser uma repetição da primeira “De Winter”. Algo, claro, não concretizado.

Leia mais: Nicolaj Arcel é o diretor do remake de “Rebecca”

A frivolidade da governanta Mrs. Denvers (Dame Judith Anderson), é primordial para a atuação brilhante de Fontaine. Mais antiga na mansão, ela rebaixa a nova moradora a uma insignificância potencializada também pelos enormes cômodos. A recém-casada aceita a condição, e se deixa oprimir até o final do filme, quando começa a amadurecer e descobrir quem realmente foi Rebecca. A transição de seu condicionamento é tão sutil que mal nos damos conta de suas alterações enquanto realidade. A representação da despótica empregada é tão brilhante quanto a da personagem central, e também valeria uma estatueta da Academia.

Joan Fontaine (à direita) contracenando com Judith Anderson em "Rebecca"

Joan Fontaine (à direita) contracena com Judith Anderson em “Rebecca”

O clima criado por Hitch na velha Manderley nos deixa com a nítida impressão de que a figura da primeira esposa irá aparecer a qualquer momento. Assim como em “Psicose” (Psycho, 1960), portanto, a mansão é absolutamente fundamental para a história, visto ser determinante para todas as ações e reações daqueles que ali vivem. Ao mesmo tempo em que perduram as ações de superioridade premeditadas pela Sra. Denvers, o contraste com o tamanho do casarão se faz presente na percepção de sufocamento que apenas ambientes fechados poderiam causar.

Tudo somado à música de Franz Waxman acaba por instaurar um ambiente de múltiplos atributos, tais como insanidade, claustrofobia, aflição, comiseração e, porque não, medo. Fica estabelecido, assim, um dos melhores filmes de todos os tempos. Mostrando Hitchcock, em seu primeiro trabalho nos Estados Unidos, o quanto poderia somar às produções cinematográficas.

P.S.: Durante as filmagens, Laurence Olivier, contrariado por não emplacar a então namorada Vivien Leigh na produção, passou a destratar Joan Fontaine nos sets. Ao invés de condenar o “pouco caso” do ator, Hitchcock ordenou que todo o elenco fizesse o mesmo sem ela saber. A intenção? Deixá-la sentir-se exatamente como a personagem central e levar mais realidade às telas.

Hoje, diferentemente da época da elaboração da obra, podemos dizer que Fontaine se enquadrou perfeitamente naquele vasto espaço dentro dos estúdios. Mostrou sua grandiosidade em um ambiente desfavorável e hostil, destacando-se logo de cara para brilhar por mais longos anos aos olhos dos amantes do cinema. Não fica somente a lição artística propriamente dita, mas o ensinamento pra vida, cuja única certeza acaba de deixar o cinema com o mesmo ar de “Rebecca”…

Especificações técnicas
Filme: “Rebecca – A Mulher Inesquecível”
Nome original: “Rebecca”
País e ano: Estados Unidos/ 1940
Produtoras: Selznick International Picture e United Artists
Duração: 130 min
Fotografia: Preto e Branco
Gênero: Suspense
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Philip Macdonald, Michael Hogan, Robert E. Sherwood e Joan Harrison (baseado em livro de Daphne du Maurier)
Produção: David O. Selznick
Música: Franz Waxman
Elenco: Laurence Oliver (‘Maxim’ De Winter), Joan Fontaine (Sra. de Winter – Mrs. De Winter), Judith Anderson (Mrs. Danvers – Sra. Denvers), George Sanders (Jack Favell), Nigel Bruce (Major Giles Lacy), Reginald Denny (Frank Crawley), C. Aubrey Smith (Colonel Julyan), Gladys Cooper (Beatrice Lacy), Florence Bates (Mrs. Van Hopper), Leo G. Carroll (Dr. Baker).

Esmaltes de Hitch custam R$ 89 na internet

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Essa, confesso, eu não sabia. E este post vai especialmente para as mulheres fãs do Mestre do Suspense. Lançados em setembro do ano passado no Brasil, três esmaltes da marca Chanel em homenagem a filmes de Alfred Hitchcock custam R$ 89 no site oficial da empresa e são boas dicas de natal para enfeitar as unhas da mulherada.

Ao todo, são três cores: Vertigo (Um Corpo que Cai, 1958), marrom escuro; Frenzy (Frenesi, 1972), tom de areia acinzentado; e Suspicion (Suspeita, 1941), magenta.

O trio da coleção, parte linha Le Vernis também está à venda no exterior e pode ser encontrada pelo site www.chanel.com.

Hitchcock, eterno

Foto: GoogleQuisera o destino, há exatos 114 anos, que aquele quem fora (e o é, até hoje), conhecido como o Mestre do Suspense, nascesse no mês de agosto. E bem em um dia 13. Para os supersticiosos de plantão, um prato cheio. Para os desapercebidos, nada de mais. Para fãs da sétima arte, uma coincidência histórica. E para os aficionados por Alfred Hitchcock, outro motivo para justificar a genialidade ao tratar assuntos de suspense e elaborar cenas de terror difíceis de serem esquecidas.

Tão difícil quanto encontrar cineastas à altura. Um patamar atingido apenas por nomes como Charlie Chaplin, Ingmar Bergman, Akira Kurosawa, Billy Wilder e François Truffaut, pra citar alguns. Hoje, o “fazer cinema” ficou mais fácil em virtude do avanço da tecnologia, principalmente no que tange aos efeitos visuais computadorizados. Porém, quando o contexto geral do mise-en-scène é contestado, vale a velha máxima dos saudosistas: não se faz mais cinema como antigamente.

Hitchcock conseguiu ser único em seu gênero. Muito devido ao histórico de seu crescimento. Filho de Emma e William Hitchcock, viveu sua juventude sob rédeas curtas e com muita disciplina no bairro de Leytonstone, em Londres. A família, típica, o educou com rigidez da moral britânica, muitas vezes autoritária. O rigor católico deixou marcas profundas em sua formação psicológica e, ao crescer com a prática da punição com artefatos de borracha pelos sacerdotes, passou a ter uma visão única acerca dos conceitos de culpa e perdão. O crescente temor pelo “proibido” (como, na época, o humor negro) passou a ser fonte de inspiração para elementos que, mais tarde, fariam parte do “composé” cinematográfico do diretor, juntamente à inconfundível atmosfera de suspense que somente ele, até os dias atuais, soube criar.

Contratado por estúdios britânicos na década de 1920 como desenhista de letreiros, iniciou sua experiência com cinema também sendo responsável com cenários e pequenos diálogos. A primeira direção veio em 1923, com “Always Tell Your Wife”, filme não foi finalizado por falta de verba. Sua trajetória mudou de rumo após casar-se com Alma Reville, cujos pitacos foram primordiais para o produto final de cada um de seus longas.

Com 23 filmes rodados na Inglaterra e 31 nos Estados Unidos, inseriu duas técnicas na linguagem cinematográfica que, mais tarde, tornar-se-iam comuns. Em “Os 39 Degraus”, o cineasta apresenta pela primeira vez o “MacGuffin”, termo criado pelo próprio que significa a inserção de um objeto pretextual e de pouquíssima relevância para avançar na história. O exemplo mais famoso está em “Psicose”: o dinheiro roubado do patrão serve apenas para conduzir a personagem Marion Crane (interpretada por Janet Leigh) até o Motel Bates. Lá, a trama principal evolui sem que aquele dinheiro faça a menor diferença no desenrolar do enredo. Outra característica daquilo que viria a ser chamado de “estilo Hitchcockiano” é a utilização de um “bode expiatório”: um personagem inocente perseguido ou punido por um crime que não cometeu. Alguém da trama central que carregue consigo, sozinho, a culpa de qualquer crime, até a constatação real dos fatos.

Foto: GoogleSua destreza e atenção a detalhes ao tratar com o cinema, no entanto, não se refletia na vida pessoal. Aspas trazidas em inúmeras biografias, tais como “Os Bastidores de Psicose”, de Stephen Rebello, e “Fascinado Pela Beleza”, de Donald Spoto, traduzem os sentimentos dos atores e técnicos que trabalharam com Hitch ao longo dos anos. Dentre os adjetivos, depressivo, solitário, psicótico, perverso, tarado e maníaco. Sua célebre frase “Os atores devem ser tratados como gado” era levada ao pé da letra. Sua direção consistia no posicionamento das câmeras e o tratamento pessoal ficava, com o perdão do trocadilho, em segundo plano.

Entretanto, apesar de tratar subordinados com certa distância, tinha seus “preferidos”. Na verdade, “preferidas”: as atrizes loiras. Apaixonou-se por Vera Miles, Grace Kelly, Janet Leigh e, de forma mais grave e intensa, Tippi Hedren. Chegou ao ponto de não permitir que ela se relacionasse com ninguém nos sets de filmagem de “Os Pássaros” e “Marnie”. A atriz chegou a lembrar que ele mandava funcionários a seguirem para saber com quais tipo de pessoas se relacionava. Porém, dizem as más (e boas) línguas, que isso partia de uma intensa frustração sexual. Em toda sua existência, o diretor tivera apenas uma relação: aquela que concebeu sua filha única, Pat Hitchcock. Deste mesmo fracasso pessoal vinham os constantes comentários sobre sexo, os quais geravam constrangimentos e risos sem graça nos estúdios. Ainda assim, era querido por todos, pela doce capacidade de demonstrar afeto e respeito por aqueles que o rodeavam.

Sua paixão pela sétima arte transpunha-se a qualquer valor em sua vida. Exemplos não faltam e o principal jaz por meio dos bastidores da produção de “Psicose”. Hitch adquiriu os direitos do livro homônimo de Robert Bloch sem consultar a Paramount Studios, onde trabalhava. Comprou, inclusive, milhares de cópias do livro espalhadas pelos Estados Unidos para que o público não tivesse acesso à história (principalmente ao final surpreendente). Quando expôs a ideia para as filmagens, não teve o apoio dos produtores e, muito menos, o aporte financeiro. O diretor, então, hipotecou a própria casa em Los Angeles e pagou toda a montagem, incluindo salários, do próprio bolso, tendo apoio da empresa apenas para o lançamento nas salas de cinema. O resultado: seu maior êxito. A bilheteria total na época chegou à cifra de 50 milhões de dólares. A produção teve custo total de US$ 800 mil.

Porém, a pressão por sucessos atrás de sucessos e sua paranoia com as atrizes passaram a deixá-lo cada dia mais exausto e longe dos bons resultados. Ainda assim, um portfólio de criação com obras-primas do porte de “The Lodger – O Inquilino Sinistro”, “A Dama Oculta”, “Rebecca”, “Suspeita”, “Sabotador”, “A Sombra de Uma Dúvida”, “Festim Diabólico”, “Pacto Sinistro”, “Disque M Para Matar”, “Janela Indiscreta”, “O Homem Que Sabia Demais”, “Um Corpo Que Cai”, “Intriga Internacional”, “Psicose” e “Os Pássaros” não pode, sob qualquer hipótese, ser ignorado. Há de ser, para sempre, cultuado. Não à toa sobrevive às mais diversas gerações.

Foto: GoogleGênio, artista, controverso, perverso, tarado, maníaco, perfeccionista. Adjetivos que caibam à personalidade de Alfred Hitchcock não faltam. Mas, como dito no início deste texto, quando se fala do Mestre do Suspense e ao parâmetro cinematográfico criado por ele, uma qualificação não pode faltar: ao “completar” 114 anos, Alfred Hitchcock é eterno.